Há coisas que por mais que insistimos em tentar explicar, elas simplesmente são estranhas para quem não vivencia. Não há uma compreensão, porque somente você sabe o que aquilo significa. Falando desse jeito, até parece que estou tentando traduzir algum sentimento intenso, mas na verdade só estou comentando sobre as manias dos leitores compulsivos. Eu, por exemplo, tenho inúmeras delas que poucos acham comum, alguns chegam a me olhar estranho justamente por praticá-las, mas cá entre nós, tenho certeza absoluta que sou apenas uma no meio de diversas outras pessoas que fazem exatamente a mesma coisa.
Quando entrei no mundo da leitura, comecei a adquirir hábitos que tornam a experiência ainda mais mágica, e talvez até revoltante. Muitas vezes o livro deixa de ser somente uma história publicada e torna-se uma realidade, um portal aleatório para uma dimensão completamente diferente, e única. São manias bobas que transformam uma leitura qualquer em um passeio bidimensional para outra galáxia distante. Mas não é só isso não, há outras centenas de hábitos, manias, costumes, vícios que envolvem um leitor, por isso, na tentativa de trazer um post mais leve, me lembrei desse assunto que, por acaso, garanto que muito irão se identificar: alguns cacoetes que só quem é um leitor consegue entender.
Cheirar todos os livros novos
Não conheço uma única pessoa que não faça isso, até mesmo aquelas que não são muito chegadas em ler acabam por fazer. É impossível resistir ao cheirinho de livro novo que envolve o ambiente quando você o abre. Sem falar no toque, nas texturas, na forma como foi impresso, nas folhas que foram usadas e, principalmente, nas ilustrações que ainda estão com aquele cheirinho de tinta. Por vezes, até na livraria você encontra alguém que faz isso, e fica se segurando para não fazer o mesmo na frente de todo mundo. É algo meio íntimo.
Comprar mais livros do que consegue ler
Quem nunca? Por mais que você tente se controlar, que a sua economia precise prevalecer, que sua estante não caiba mais nenhum exemplar ou que o seu tempo está tão escasso que não consegue mais nem respirar, você vai dar um jeitinho de comprar um livro novo e ficar naquele eterno drama de que tem mais livros do que realmente consegue parar para lê-los. E é claro que na primeira oportunidade vai carregá-los para todo canto na tentativa de encaixá-los em um tempinho extra que tiver, mesmo que não o tenha.
Se decepcionar com as adaptações
Outro quesito que é muito complicado de não ser verdade. Poucas são as adaptações que fazem jus ao livro em que foi baseado, então aqueles que o leram ficam com uma decepção enorme, não por não estar exatamente como na obra escrita, mas sim por não se encaixar com todo o contexto que imaginamos na nossa cabeça quando o absorvermos. Fica aquela sensação de vazio absurdo que o filme nos proporciona. Mas sim, existem exceções.
Ter um personagem como melhor amigo
Sou uma pessoa que se apega muito aos personagens dos livros que leio. Sempre existem aqueles que são tão parecidos com sua personalidade, que a vontade que tem é de transformá-los em pessoas reais e fazer com que vocês se tornem melhores amigos, talvez até de algum outro personagem também. Seja através dos diálogos, das atitudes ou dos comportamentos involuntários no decorrer das histórias, há sempre a possibilidade de se identificar com algum deles.
Vivenciar cada capítulo
Nós não só lemos cada frase, cada palavrinha, cada diálogo, mas também fazemos toda uma encenação na nossa mente, todo um contexto, toda uma história fantasiada, com a aparência e a presença de cada personagem e cada elemento indispensável do livro, onde até mesmo as vozes são pensadas com cuidado. Por vezes até a sensação de estarmos vivendo aquilo se torna real, e então ficamos em um abismo entre a realidade e a fantasia, onde certamente preferimos nos afundar em cada capítulo diferente.
Ter pavor de emprestá-los à qualquer um
Tem coisa pior do que emprestar seu amado livro para alguém e ele retornar com a capa toda arranhada ou riscada? Com as folhas mal cuidadas? Com amassados nas pontas? Com a orelha toda desconfigurada? Não tem. Um livro para um leitor é como um filho. Há todo um cuidado especial, um ritual de armazenamento, um ciúme excessivo que é quase impossível de perder. Da última vez em que emprestei um livro, até mesmo a lombada estava rasgada. Nunca mais.
Querer ler o livro antes de assistir ao filme
Ler a obra escrita antes de parar para assistir ao filme é algo que tenho relevado ultimamente, afinal, são tantos livros e filmes sendo lançados que é impossível acompanhar tudo, mas tenho muito o costume de querer ler antes de assistir, reparar nos mínimos detalhes que passaram despercebidos, nas cenas que foram cortadas, na aparência e descrição dos personagens. Todo leitor tem um pouco dessa mania, até porque, assim conseguimos ter uma ideia do quão bom ou quão ruim ficou a adaptação.
Fazer caras e bocas com os diálogos
E por último, o eterno drama de se ler um livro em público por causa das inúmeras caretas que fazemos sem perceber. Em um momento mais feliz da história, rimos junto do personagem. Em uma morte inesperada, entramos em luto também. Nas decepções, ficamos confusos ou irritados com o que tal pessoa fez com tal pessoa. Entre sorrisos, choros e nariz franzido, nos deparamos com alguém nos encarando seriamente como quem diz "você está bem?". Quem dera poder dizer "estou ótima, mas fiquei com raiva de fulano, ele não tinha o direito".